quarta-feira, 17 de abril de 2013

mergulho


diante dela, um pequeno mar feito de azulejos. Fazia frio - era alto e ventava. talvez não fosse lá o momento melhor... mas antes do melhor, sabia, vinha o preciso.

refletia a água a sua imagem. refletia ela mesma, por dentro, também. respirou fundo tanto quanto pode e, de uma coragem vinda ninguém sabe de onde, mergulhou.

de roupa, nua como nunca antes.

entregue, laboratório de si.

deixou o peso do corpo existir e alojou-se no fundo da piscina. só, com seus pensamentos, seus limites, suas humanidades.

forçou-se o passar do tempo. 1, 2, 3 minutos. aceitava, num embate consigo, a agonia do peito. 4, 5, 6. sentia o corpo ceder, a alma gritar, tudo ir de encontro. 5, 6,7. e esvaía conscientemente, resistente, apenas, em sua decisão. 8, 9, 10. o coração, desacelerado, já não mais possuía os absurdos da vida; a mente já não respondia, tomada pelo líquido do encontro. 11, 12, 13. era dada a hora: os olhos sangrados, as mãos sem vida, o corpo frio ali residia, invadido violentamente. imerso, lavado, afogado, imune.

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subiu de um impulso, resgatando o ar. era morto, finalmente, o medo.






Um comentário:

  1. Somos seres muito sós , na verdade.
    O relato desse instante sozinho, nas tuas palavras bonitas, nos leva, faz sentir junto, a solidão, a fragilidade, a beleza e a incrivel força que nos faz voltar à tona.

    Beijo, querida Camila!

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