segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

avassalador

Amor avassalador

Vicia

A gente quer, depois,

Que tudo arregace

Que tudo arrebate

Que tudo arrepie.

E aí

Se não vem

Se não é

Sobra suspiro profundo

- gasta-se na hora que não dá,

nas notícias da TV,

no vestido da vitrine

- quanto desperdício.

E aí

Se não vem

Se não é

Fica a gente catando peito

Achando leito

desesperadamente

Onde não tem.

Romantiza por qualquer trocado

Pena que nem o diabo

Sente falta de um pedaço

Enorme de dentro.

Vive à mercê do e se... Ô dó!

Os olhos à caça,

Agonia que não passa,

Luta em vão contra o tempo.

Pra que serve mais todas as roupas?

As garrafas de vinho?

As velas semi-derretidas

ainda a espera

de queimar por dois?

Pra que serve mais os versos criados

E não-ditos

(eram surpresa)...

Tudo em coma,

Tudo em transe,

Numa iminência longínqua

(mal sabem)

de acontecer.

Só nos resta esperar,

As unhas roer,

O desejo acalmar,

rimar, pirar, beber!

Até que então venha

outro amor avassalador,

chegando bem daquele jeito:

Cheio de riso, cheio de encanto,

Fazendo de novo

bagunça no peito.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

sobre alguns dias

São Paulo é grande, tão grande, e me ocupa o tempo, e me seduz noturna, e me desafia fria, desdenhando elegantemente do meu calor. Às vezes me evita, às vezes acaricia, às vezes é dura e seca feito seus concretos, mas também me canta baixinho canções tristes - eu que não resisto a melancolias e saudades. São Paulo é isso e eu, por vezes, o oposto: aquilo que sente, e que disso depende, aquilo que vive a espera de. E eu temo perder minha poesia pelos bueiros que não existem, eu temo assistir escorrer os meus versos calmos junto com a chuva que lava o poder do homem, a chuva que insiste no caos - esse choro do céu.

Procuro o alto dos prédios, a visão plena, o vento lambendo os cabelos. Quero parto para os meus sentimentos, colo para a minha poesia. Mas não alcanço... Entre os propósitos das fardas e metas e números e sonhos, minha alma pede graça, amores arfantes, vestidos leves, o veludo da pele saída do banho, alguma coisa de calma e dengo – mas dengo, nessa cidade, ninguém sabe lá muito bem o que é.

Observo o país que me cerca - é um país. Me perco na grandeza de São Paulo. Embora fora justamente para me encontrar que aportei, esperançosa feito manhã nascendo, em seus braços largos.