sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

desamor

coisa boa é o desamor.

a cara do alívio.

quanto suplício, meu deus,

derramou aquela boca!

hoje desdenha, ri,

hoje diz: louca!

como pude?

como foi

mesmo isso?

não há o que pague

quando o olho vê

e o coração nada!

nenhum arrepio

nenhum calafrio

a dor apagada!

oh, grande senhor dos peitos,

amém à cura do meu.

desamor é vida!

regresso de si,

reencontro.

rasgo nas fotos,

incêndio nos ontens

passado e pronto.

agora,

em mim,

só o que virá

vive:

livre,

livre,

livre.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

de: para:

Era uma carta de amor. Um pedaço de papel embrulhando um pedaço do peito. Era uma verborragia inocente e dançante, uma harpa solando para presente, era um pacote de 1000 fatias de cebola picadas – como fazia lacrimar. Era uma carta de amor… uma coleção de vírgulas e reticências, o avesso inteiro de um coração, um alagamento irreversível de sentimentos - jorrava, pingava, molhava. Era um trem apitando, correndo a mil entre trilhos em direção aos olhos do destinatário (que além de destinatário havia de ser também destino, segundo o desejo do remetente). Era um buquê de palavras, um suicídio explícito de solidão - se jogou convicta, cética, côncava, do octogésimo andar! Era um contrato entre os países da alma, era uma bandeira branca tamanho A4, era um travesseiro para certezas, uma chama invisível queimando, um frasco inteiro de paz. Era uma verdade bruta feito diamante... um desfile de risos; era um bilhete de loteria grande, uma compota de suspiros. Era o que era: uma carta, vejam todos, uma carta de amor.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

1, 2, 3, go!

Começar o ano de branco e manter seus primeiros dias também assim. Brancos, novos, puros, páginas a espera do correr dos dias e dedos. Brancos! Zerar tudo o que não foi vivido, as angústias iminentes, o passado que não anda – nem é bom repetir, deixa lá, deixa lá. Brancos! Tempos ávidos pelo preenchimento que virá, tão promissor, tão bonito, tão latente. Encorajo meu peito, sorrio meus olhos, ergo minhas mãos para a luta: somos novos e somos tantos, há um mundo e há possibilidades, quero tudo, quero muito, quero brancos! Me perdoe você, que não me aconteceu… precisei te abandonar. Abandonei também, aliás, os dias cinzas, as reticências estendidas, os soluços parasitas, abandonei os planos falíveis, abandonei as roupas que já não mais uso, abandonei tantos medos, os nãos que eu comumente invento, abandonei as pessoas que foram quaisquer, e só quaisquer, nos lábios meus... Abro minhas portas para o possível, sem entraves, sem trancas, sem memórias, bandeira estendida dos virgens: branco!

Chegue-me pleno e em paz, destino, que meu calendário é todo seu.