terça-feira, 30 de agosto de 2011

trip hop soundtrack

Se apresenta como calor.

Chega perto. Acorda o arrepio. Entra nos olhos, em primeira instância. Faz acampamento.

Acende a lareira de dentro, serve uma taça de vinho. Guarda o cigarro para depois.

Passeia pela ponta dos dedos, dos pêlos, nos riscos das peles, nos vãos dos poros. Crescente. Pulsante. Arfante. Serpente.

Explora cada um dos seus novos territórios. É dono dali.

Abraça, respira, língua o desejo, rasga silêncios, afirma com os olhos e coxas. Acaricia com tudo: cabelos, cílios, cotovelos, dobras, lábios, entranhas.

Dança. Faz poesia de corpos. Dança. Derrete todos os sentidos.

Funde.

Espasma e sussurra pra dentro.

Depois,

Suspira profundo,

Relembra do mundo

e derrama-se em dois, novamente,

para dormir a alegria da alma.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

barra grande de camamú

Liberdade é andar nua na areia da praia, a caminho do mar. Sem que lhe julguem os olhos, as línguas, sem que lhe rotulem os infelizes – louca! – sem que lhe cacem, caçoem, espiem, possam alcançar.

Caminhar a passos leves, sem marcas fundas na areia, amando o laranja que beija o céu no cair da tarde, o sal que lhe agarra e a brisa que sussurra um suave bem vindo. Mesmo que na pele algum frio. Mesmo com o topar nos pequenos búzios. Os olhos abertos feito janelas, fixos, como que em busca de tudo o que lhe atrai e falta.

Deixar, lentamente, agora já perto, que o mar lhe lamba os pés. E que aquilo seja tão bom que não possa ser negado. Ouvir o silêncio da vida. A música da paisagem. Entender-se sozinha - e que isso não doa. Atender ao chamado do instinto, depois: mergulhar lentamente nas águas, deixando-se cobrir pelas ondas, pelos beijos das ondas, todos eles. Até que o gelado lhe invada, lavando e levando tudo o que de triste houver.

Saber de seu corpo, neste instante. Ter propriedade dele. Quão lindo. Quão terno. Instrumento, mesmo pó. Dissipar-se, espalhando toda e qualquer partícula que lhe pertença, ainda que só em pensamento. Boiar. Boiar. Soltar a mão do controle. Deitada sobre o mundo que há abaixo, de frente ao que lhe ronda acima, ser profunda, absurda e tão certa da vida que ali mesmo poderia ela acabar.

E diante de tudo, dos ecos do mundo, dos erros dos homens, dos sonhos abandonados, das crianças que choram, dos amanhãs incertos, das ausências, reticências e dos vãos no peito, ali, plena, encharcada, liberta, matéria - e feliz, simplesmente existir.