quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

silêncio


Que barulho faz o seu silêncio?

Quero que o meu tenha a mudez de um sorriso. Porque quero que meu silêncio seja de paz. De estar dentro de mim e, mesmo sozinha, me sentir confortável.

Silenciar por fora é aquietar por dentro. Quero não temer – há tanto tempo já; mas talvez esse seja um dos mais difíceis desafios. Quero não temer para viver inteira. Sem pés atrás. Sem entregas equivocadas. Sem medos expostos nos olhos, nas mãos.

Ando bem comigo e disso não posso esquecer. Acalmo as agonias mais facilmente hoje: virá, eu sei. Respeito o meu tempo porque me conheço. Sei quando minha alma tem fome e não.

Enquanto isso, folheio livros...

Enquanto isso, canto canções...

E depois faço silêncio. Para tentar desvendar, preenchida de mim, o barulho do meu.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

alguém


se são os olhos janelas
suas cortinas
se encontram fechadas.
suas retinas miram
o nada
a espera de uma visita
que nunca virá.

se são os olhos janelas,
suas rotinas
se afundam lá dentro.
não se permitem
a luz do dia
não dão chance
ao tempo
sonham com o invisível, 
o impossível
 - talvez justamente
para não alcançar.

não vêem sóis...
não admiram luas...

se são os olhos janelas...
que muro as suas.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

arrepio


resisto
a vitrines charmosas,
mãos ousadas,
olhos tristes,
resisto
a anúncios caribenhos
de agências de turismo
resisto a pedidos descabidos
de um pouco menos de juízo
resisto a dias cinzas,
horas vagas,
noites safas,
passos vãos.

resisto
a ameaças e
grandes saudades,
resisto a angústias
às dores da cidade,
resisto firmemente
a brigadeiros e
pudins de leite moça
(me seguro muito
em mim)

mas vou te dizer:
quando você 
me sussurra assim...

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

manhã


acho pouco o corpo: gosto é que me entranhem a alma. estar nu na frente do outro é amar com os olhos, querer sem medida, conhecer os caminhos, gritar os segredos, cravar os dentes no sentimento exposto. intimidade é um país.

se me movo despida em seu quarto, natural como vim, não defina conquista. o que de mais valioso tenho só o seu de dentro pode alcançar. 


terça-feira, 29 de outubro de 2013

tecnologias



uma menina vende rosas no farol
mas o homem do carro do lado
vidro fechado
instagram nas mãos
nem se quer nota.
e eu penso que sós,
que sós que somos.

a mulher do 25
dorme sozinha há anos
acorda com as tecnologias
(deveria ser com beijos).
e eu penso que sós,
que sós que somos.

o casal caminhando discute
uma mensagem chegada
mal explicada
suas intolerâncias gritam
eles seguem separados

e eu penso que sós,
meu Deus,
que sós que somos.
que sós ficamos
trocando lugares
desviando olhares
com o futuro
que criamos.

no toque incessante
dos dedos nas telas
quase tudo ao redor é silêncio
nos entretemos com o vazio
de ausências
nos cercamos

e eu penso em que nós,
em que nós
nos tornamos.