há o que vem e fica. há o que vem e vai.
respire: a vida tem isso de mar. aceite: só com entrega se conhece o destino.
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
terça-feira, 20 de setembro de 2016
tenho pra mim que esqueço
de certas coisas
só para poder me lembrar
ter de novo na boca
o gosto do quase-ido
o sal se prendendo à minha pele
nas manhãs de ventania na praia
a semente azeda que achávamos
possível veneno lagoa azul
o peito doendo na carne
no nosso primeiro adeus
o andar do seu apartamento no prédio rosa queimado
cristiano viana número não sei quê seis
tenho pra mim que esqueço
de certas coisas
só pra poder sentir tudo
outra vez
outra vez
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
pedestal
tatua no peito
um poema meu
desfila pro mundo
o troféu eu
e hoje
10 da noite
minha cama segue deserta
admiração
não é amor
não é amor
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
um poema
um poema caminha, respira,
tem olhos e ouvidos,
tem coração – ah, como tem.
um poema tem mãos,
tem dedos, tem medos,
e depois tem coragem
- para ser um poema é preciso desafiar
tanta coisa...
um poema tem veias,
sangue, ventre
dá a luz todo dia
a pequenos atos
e afetos
que povoam o mundo
de absurdos
e de amor.
um poema
somos todos
quando tolos
e incompletos
inspirados e pirados
quando inteiros
e repletos
quando sentimos mais
que pensamos
quando amamos
quando amamos
quando amamos.
um poema somos eu,
você
e quem mais ousar
estampar
a alma nua
no corpo.
a alma nua
no corpo.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
(só poesia)
os dias às vezes parecem mais doídos dos que são de verdade - falta mar em
são paulo. brisa é como sopro de mãe nas feridas do pensamento.
de dentro do carro, procuro céu. não quero me esquecer do infinito.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
domingo, 21 de fevereiro de 2016
cuidado
dificilmente minha boca fala algo que o meu coração não esteja
sentindo. nada em mim é de impulso; sou de construções. sou do que fica, do que
finca. do que se ergue lento, mas seguro. cuido de mim, cuidando do outro - não
dou mais do que eu intendo verdadeiramente.
quando me entrego, nunca é da boca pra fora: sempre é da alma pra dentro.
quando me entrego, nunca é da boca pra fora: sempre é da alma pra dentro.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
uma mulher, um homem
uma mulher precisa de um homem porque, ah, como é
difícil entender essas coisas de carro e manutenção e saber a hora de trocar o
quê. uma mulher precisa de um homem para que ele lhe diga se é esse mesmo o
preço de tal serviço, qual é o endereço daquele lugar da semana passada, se tem
jogo essa quarta feira e o trânsito vai complicar lá pelas seis.
uma mulher precisa de um homem para ser a mulher que
quer ser: e se maquiar no espelho, pensando em borrar com beijos arfantes toda
aquela obra pintada em sua boca; e vestir o corpo já pensando em como a roupa
será dali arrancada; e se perfumar sabendo que, por tal motivo, há de ter logo
mais um nariz generoso passeando pelas redondezas da sua nuca, causando
pequenos e eufóricos arrepios que durarão longamente na memória.
uma mulher precisa de um homem porque faz frio, muito
frio nas noites de sábado em uma cama larga, de lençóis brancos. e porque esse
frio não passa enquanto seus pés não se juntarem aos seus pés, e assim possa
acontecer o podólogo milagre da calefação amorosa.
uma mulher precisa de um homem para que seus cansaços
não sejam só seus. para que haja consolo para seu choro ou, pelo menos, alguma
manha — uma mulher precisa de manha, como precisa de manha.
precisa também de dengos, de dedos passeando nos cabelos; precisa ter um
peito-travesseiro, para descansar os pensamentos e ouvir o coração do outro
bater; precisa de uma perna pesada repousada sobre a sua quase que lhe
incomodando, mas que ela suporta por pura vontade de ter uma perna pesada
repousada sobre a sua.
uma mulher precisa de um homem porque às vezes ela não
quer ser tão forte, não quer se bastar, não quer dar conta de tudo — que grandes
humanos somos quando nos permitimos a importância do outro.
uma mulher muito precisa de um homem para que seja
olhada com desejo enquanto prepara algo com sua sainha rotineira e, nesse
instante, entenda o tempo da pele e folgue as pernas e incline o quadril para
que entre nela a carne e o calor. uma mulher precisa de um homem para dar sexo
e ter amor, dar amor e ter sexo. e para que possam construir juntos uma
promessa chamada filhos, chamada lar, e que será para sempre monumento deste
verbo intransitivo que tanto transita nos nossos peitos: amar.
uma mulher precisa de um homem para se irritar
absurdamente a troco de nada — ficamos mais viçosas, assim; precisa de um homem para
terreno de suas verborragias, que são apenas verborragias, oras — ou tpm, talvez;
precisa de um homem para lhe olhar bem fundo nos olhos e não precisar dizer uma
só palavra, porque suas almas conversam bem em silêncio, quase como se
abraçassem.
esse não é um texto machista, sexista ou sobre gêneros, nada disso. é
apenas o derramar do coração de uma mulher que gosta de um homem e precisa dele — e que sabe que
este sentimento só é possível porque, ao fim, ele também gosta e precisa dela,
humanos e amantes que são.
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