quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

sobre são paulo


quanta ciência você pede, são paulo. tudo em você requer paciência. tudo é pra ontem, tudo é urgência, tudo quer tanto e cada vez mais. os tapetes da suas enormes salas, os asfaltos, abrem caminhos travados que levam ninguém sabe pra onde de verdade. o seu abraço é aberto, mas magro. o limite aqui é o chão. mesmo o mais apaixonado dos seres fuma, um dia que seja, o cigarro da dúvida te olhando da janela. 

ainda percebo suas graças: o que em você é vasto, o que seduz, o que envolve, tudo aquilo que você convida. te aceitamos, cientes. te vivemos, querentes. somos gratos - você é essa cidade grande que faz grande também a gente.

tanto te falta, tanto te sobra. tanto está sempre chegando e partindo. você é essa eterna iminência de caos sobreposta a imensas vontades de cais. você é a mala no corredor da sala que a gente não desfaz por não saber ainda o destino final.

hoje, a cidade para onde todos que tinham sede vinham ameaça justamente secar suas bocas, escurecer seus amanhãs. 

eu te imaginei deserta, na literatura do meu ócio, e isso, mesmo que exagerado, me foi tão estranho... mais duro e frio que todos os seus concretos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

novo ciclo





33 é um vinho sozinha, deitada no sofá, sob meia luz da sala, comemorando a vida. ė saber o que sonha, e não saber o que virá - mas já saber, dentro de si, que seja lá o que for, a vida providencia. 33 é dizer sem delongas quando não gosta, é esclarecer quando é preciso, é saber o que quer e aonde quer ancorar. 33 é ainda querer dengo, mas saber a hora de ter - e com quem. é ter caixas de fotos, saudades de datas, vontades de mais. é ter o rímel borrado diante do espelho por bem menos tempo - demaquilante rapidamente à mão. é compreender o amor e pacificar a busca por ele. 33 é ter fome no meio da festa, sono no começo da noite, coragem no meio do medo, certeza no meio da dúvida, ombros e colos já permanentes de afeto. 33 é pensar que deveria estar como todo mundo, mas logo saber que você não é todo mundo, e que o seu caminho é escrito por linhas só suas. 33 é ter ainda mais certezas de deus, desejar uma família e saber que ela virá, é ter experimentado o mundo e guardar na boca o gosto dele, é acreditar mais em você, doar-se mais a você, saber-se cada dia mais. 33 é só o começo. porque o começo, na verdade, aos 33 a gente sabe: é sempre.