terça-feira, 21 de outubro de 2014

retas paralelas se encontram no infinito

teus olhos
confessando
o que havia
lá no peito
e eu, ali, chorando
tão sem jeito
no silêncio de nós
e do nascer
daquela manhã

o destino parecia
já haver designado:
cada um para seu lado
não há mais tempo de ser.

morria, o amor,
antes mesmo de nascer.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

ddd


ele diz que sente saudade, eu digo que tenho vontade. mas ambos queremos o mesmo. finjo menos, talvez, aceitando ser presa. ele romantiza, por certo, querendo atacar. e distantes nos aproximamos em mente, lembrando calores, suores misturados, pressa de fundir os corpos, derrubando abajur e copos, espalhamento de doces fúrias com os dentes, com os dedos, com as línguas, com tudo o que pensamos – sentimos – ser bom. de repente, 52 graus debaixo da roupa. de repente, arrepio correndo veloz na espinha. de repente, os olhos que se apertam e o sorriso que folga, e uma intensidade iminente que cala querendo gritar. ele diz que sente saudade, eu digo que tenho vontade. mal podemos esperar por nós.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

suspiro


o lado bom de estar cansado é que a gente se amansa. não há riso, nem choro - não há força. somos entrega. boiamos ao longo do rio. e deixamos que ele nos mostre algum rumo.


quinta-feira, 27 de março de 2014

conversa no espelho


tudo me diz: vai.
tudo,
menos o medo.
o medo,
esse homem calado,
que fala pouco,
mas tão duramente.
o medo,
essa sombra que fuma
a espera de desistências,
persistente.
o meu coração diminui
só de ver
o seu vulto rondar.
duvido da força do sonho,
abafo qualquer sentimento,
sou toda um hesitar.
e desejo que vá para longe
tentando escutar meu de dentro;
e desejo que morra bem rápido,
porque, meu deus, perco tempo;
e desejo e desejo e desejo
mas imobilizada
não consigo lutar...
medo,
destranca minhas portas,
me deixe ir:
se vá.

segunda-feira, 17 de março de 2014

outro



o que não me agrada no outro não deve necessariamente ser motivo de crítica. deve, mais importantemente, ser motivo de seleção: guardo ou não guardo para mim. o que não me agrada no outro são, muitas vezes, aprendizados dos dois lados: as vezes só dele, as vezes dele e meu. dele: crescimentos naturais, evolução, amadurecimento. meu: saber lidar, compreender, absorver apenas o que me vale, ou fazer-lhe espelho para que cresça também eu. ser nobre o suficiente para não julgar, a menos que isso me seja pedido; ser madura o suficiente para saber calar, pois palavra nem sempre é remédio; ser inteligente o bastante para discernir até onde vão minhas portas abertas.

o que não me agrada no outro que me sirva, meu deus, para me tornar outra também.