quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

memória da pele


deitados de bruços,
ao risos-soluços,
engravidávamos da noite
- seria nossa eternamente.

o chão se invertia:
era céu onde deitávamos
e amávamos
enquanto o vento
nos lambia.

rachávamos os copos.
fundíamos os corpos.
grudávamos os lábios,
os sonhos, a alma.

e tudo era nada lá fora
tudo era só o agora
a paz de dois seres em chamas,
dois peitos em calma.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

diante do sol


de braços abertos
me faço átomo
parte irrisória
do infinito

cega
esse brilho bonito
mas também alarga
o resto que sente

é bom.

buscar razão demais
tira a saúde da gente.

domingo, 23 de setembro de 2012

exercício



fere o lábio.
vê pingando dali
alguma amargura.
azeda à força
esse lado doçura
corre de olhos fechados
por entre a multidão.
e se cair,
e se não.
e se sangrar.
e se, por acaso,
amaldiçoar -
assumirá 
todas as humanidades?
é por elas
que agora procura.
não vai relevar o de dentro.
não vai derramar o olhar.
o coração vai bater
mas, por ora,
sem apanhar,
pausa nos versos,
nos certos,
nos tempos.
é preciso assistir
o ruir do silêncio,
fria
e delicadamente.         
conhecer as ranhuras,
as entranhas,
romper as suturas.
fazer-se luz
com a força do breu:
o outro lado,
o outro eu.

domingo, 10 de junho de 2012

sabedoria


A certeza da fé que me guia, do Deus que me guarda, do amor que me cerca, mesmo estando longe: minha paz. Acordo em silêncio, buscando o equilíbrio. Deixo o sol que há em mim também nascer, ainda que inverno lá fora.

Somos um mar, no avesso. E proponho, ao que sou, calmaria. Amansar as ondas, alisar as ondas, vê-las delicadamente plenas, domadas, certas de. Almejo alegrias brandas.

Descanso um pouco minha inquietude, abandono as definições. Já não quero pensar tanto, nem me sentir pronta: compreendo a grandeza que é deixar a vida correr.

Sigo tentando leveza. É só sabedoria o que desejo agora.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

sem muita rima, com muito gosto

desfilar o meu corpo
em tua camiseta
bebendo certezas
escritas em olhos

que horas virá nosso trem?
que horas serão,
meu bem?
10 minutos
para a quinta taça?

Ah...
brindemos à graça
que é nos termos
em nossos braços
e peitos.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

guerreio

Minha fragilidade é voluntária. Trago dois mundos em mim. Bebo dos dois, brindo aos dois, vivo nos dois - gosto de meus opostos. Trago nas mãos macio, mas também calos invisíveis: de quem luta, de quem não desiste, de quem nunca escolhe o caminho mais fácil. Guerreio com flores. Meus olhos são rio, são mar: oscilam entre o que é doce, terno, tranquilo e o que é revolto, incansável, profundo. Sinto, e sinto muito, mas não confundo mansidão com passividade. Porque sei que o que a vida quer da gente é coragem. É escolha. Peito pronto, peito aberto, peito firme. E mesmo sangrando, mesmo apertado, mesmo com medo, me alisto: eis aqui o meu. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

wondering


“O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão.”

Clarice disse. E eu procuro entender.

Corro o dedo no contorno das coisas, olho através do vidro a chuva, os carros, o cinza, o tempo. 

O silêncio tem sua medida neste quarto. A luz, o vento que vem dos corredores, os cantos e as portas também. Mas quase que numa oração, quase que numa doce transgressão, desejo: que o amor não.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

1 ano de são paulo

cidade que tudo dá

e tudo cobra.

do alto dos prédios,

aos beijos dos ventos,

contemplo sua obra:

essa imponência dura,

mas também essa ciência nobre

de seguir em frente.

pulsa: é feita de gente.

vive. e eu acompanho.

não me desfaço

dos vestidos de flores

(embora hoje use

um pouco menos de cores)

nem deixo de lado

minha saudade de mar.

mas vivo.

atenta, sedenta,

retribuindo ganhos

compreendendo que antes

vem o que é,

não o que será.

derramo calma no peito

e brindo, sob o efeito:

o agora

é meu lugar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

ele

Soltei a sua mão sem soltar de verdade.

Em tudo e todos, você sempre esteve presente. Não como certeza à espera, não como eterna possibilidade; não como remédios aos outros nãos. Era bem maior esta presença. Bem mais forte. Era a do amor mais puro, o amor inocente, o amor quando não se pensa em outras coisas que não o amor. (Me pergunto se isso nos acontece mais de uma vez).

Mas eu soltei a sua mão.

E imaginava – sabia - que um dia, cansado, você faria o mesmo. Mas de verdade.

Chorei um choro desesperado, abafando meu entendimento. Quis.

Deixei doer. Até inchar os olhos, até ouvir somente os ecos dos soluços, até se formar um rio que alagou o quarto, a casa, os prédios que em volta dormiam.

Tremi de medo. Me senti absurda e completamente solta. E só.

Depois,

esse enorme silêncio em mim.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

poesia do arrepio

Mãos

Em contra-nãos:

De ponta a ponta,
Arrepio.
Nos escorremos,
De espaço fartos,
Suando diante
De um falso frio -
Trememos,
gememos,
quão.

Deslizamo-nos
em ávidos carinhos.
Macios e firmes,
feito onda.
O olho no olho
Anuncia baixinho:
O que buscamos
ronda.

Até que o ar
Nos falta
E o fogo de dentro
nos queima
Até que a alma
se exalta
E o silêncio do grito
Reina.