terça-feira, 12 de julho de 2011

tristeza sobrinha

Trago em mim uma tristeza sobrinha. Sobrinha porque não é filha: vai e vem de visita, apenas, quando e como quer. Quando lhe tenho, é quase completamente minha: acarinho, dramatizo, embalo nos olhos, sofro cada um de seus instantes. Depois, quando me canso dela internamente ou quando lhe bate a vontade (simples assim), é hora de voltar seja lá para casa de quem a possui verdadeiramente.

É uma tristeza mimada: faz birra, bate o pé, às vezes fica e vai ficando, às vezes lhe mando embora com a delicadeza de uma tia que precisa lhe querer de algum jeito, fazer o quê.

Apesar de não me presentear com doces ou coisinhas do tipo, a tristeza sobrinha me traz alguma inspiração. Em sua presença, me visto de alguém triste (ou tento acreditar assim, para não ser esse alguém completamente) e desato nas palavras, nos sentimentos, nas solidões, nos vãos dos caminhos que caminho e não; na brisa de um mar que eu tenho saudade e visito em pensamento. E depois de me exaurir, despetalar, ameaçar abismos, mortes, cortes, eternos, fuga para ilhas, desertos e toda uma vida caminhando só... renasço. Esqueço e pronto. Acordo com a porta batendo: ela se foi.

Mas... danada, apegada, insistente, voltará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário