segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ao falso amor

assisto à sua partida neste papel em branco.

no meu rosto, pranto.
no meu gosto, fim.


escrevo para te expulsar de mim.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

uma coisa que talvez me faça fraca, que talvez me faça forte: quero apenas o que tiver de ser meu. não disputo quase nada nessa vida; entendo que aquilo que exige forças por demais tem muitas chances de ter entrega por de menos. acredito com todo o meu de dentro na fluência da vida, no correr dos fatos como um rio, na certeza deles como um mar. 

sempre pensei que isso fosse paz... ontem, numa conversa informal, alguém me atentou para a possibilidade de ser: passividade. passividade. será?


sei apenas que meu coração é maior sem doer, e que meu sangue prefere pulsar macio. minhas lutas se resumem quase sempre à fé naquilo que tiver de ser.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

cegos

cegos seguimos
como começamos
tateando amor
e chão
revezando sim
e não

cegos mergulhamos
em nosso oceano
nos beijamos
prendendo
a respiração

e aí nos despimos
e aí nos amamos
e aí nos quisemos
e aí nos negamos
e aí nos fizemos
passado, presente, futuro
mistura mítica
- ansiedade crítica -
e aí fomos tão.

agora mãos
suando
cabeças fervendo
silêncios pairando

agora
essas incertezas
distraindo a beleza
a qual nos doamos

ah, doamos,
doamos,
doamos!
depois, tudo deve
se ajeitar

que amor é assim,
né:
tem que doer

pra vingar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

cansaço

o amor escapole
das minhas mãos
suadas.
me esforço no tato:
quero tanto.
mas foge 
- astuto,
medroso,
insensato?
nunca pego 
esse bicho no ato.
(nem sei se deixo 
ele fazer o mesmo comigo).

ora digo que sim,
ora acho que não,
só pode ser vaselina
o que sai
do meu coração.

o amor corre
por entre os meus dedos
por entre os meus medos
ele morre.
lhe prometo céus
mas sou 
apenas 
chão


sexta-feira, 15 de maio de 2015

felino silêncio

me olha, o gato.
não paga contas,
não tem problemas,
não se consome.
se espreguiça
religiosamente
quando bem quer.
acorda às 2, às 4, às 6
horas da tarde
sem remorso.
não espera por telefonemas,
desculpas, milagres, 
explicações.
lambe-se
ama-se
tem-se
sem muito precisar.
mesmo se sozinho,
vive.
mesmo sem caminho,
livre.
mesmo que sem mãos
a lhe afagar.
me olha o gato
com olhos bem dentro
será que também me inveja?
coitado.
não sabe como
é ser

do lado de cá.

terça-feira, 21 de abril de 2015

date

pergunta pelos meus gostos
fita bem o meu rosto
foge os olhos às vezes
para passear em meus detalhes.
me entrego em respostas longas,
idem olhares,
lábios sedentos
- assumo que é da carne também o desejo.
cava em mim verdades
sela meus silêncios
conta histórias
poucas.
tira minha roupa
antes
de me despir.
que fazer?
é meia noite
e estou nua num bar
na frente de um homem
que quer
me entender.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

sobre são paulo


quanta ciência você pede, são paulo. tudo em você requer paciência. tudo é pra ontem, tudo é urgência, tudo quer tanto e cada vez mais. os tapetes da suas enormes salas, os asfaltos, abrem caminhos travados que levam ninguém sabe pra onde de verdade. o seu abraço é aberto, mas magro. o limite aqui é o chão. mesmo o mais apaixonado dos seres fuma, um dia que seja, o cigarro da dúvida te olhando da janela. 

ainda percebo suas graças: o que em você é vasto, o que seduz, o que envolve, tudo aquilo que você convida. te aceitamos, cientes. te vivemos, querentes. somos gratos - você é essa cidade grande que faz grande também a gente.

tanto te falta, tanto te sobra. tanto está sempre chegando e partindo. você é essa eterna iminência de caos sobreposta a imensas vontades de cais. você é a mala no corredor da sala que a gente não desfaz por não saber ainda o destino final.

hoje, a cidade para onde todos que tinham sede vinham ameaça justamente secar suas bocas, escurecer seus amanhãs. 

eu te imaginei deserta, na literatura do meu ócio, e isso, mesmo que exagerado, me foi tão estranho... mais duro e frio que todos os seus concretos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

novo ciclo





33 é um vinho sozinha, deitada no sofá, sob meia luz da sala, comemorando a vida. ė saber o que sonha, e não saber o que virá - mas já saber, dentro de si, que seja lá o que for, a vida providencia. 33 é dizer sem delongas quando não gosta, é esclarecer quando é preciso, é saber o que quer e aonde quer ancorar. 33 é ainda querer dengo, mas saber a hora de ter - e com quem. é ter caixas de fotos, saudades de datas, vontades de mais. é ter o rímel borrado diante do espelho por bem menos tempo - demaquilante rapidamente à mão. é compreender o amor e pacificar a busca por ele. 33 é ter fome no meio da festa, sono no começo da noite, coragem no meio do medo, certeza no meio da dúvida, ombros e colos já permanentes de afeto. 33 é pensar que deveria estar como todo mundo, mas logo saber que você não é todo mundo, e que o seu caminho é escrito por linhas só suas. 33 é ter ainda mais certezas de deus, desejar uma família e saber que ela virá, é ter experimentado o mundo e guardar na boca o gosto dele, é acreditar mais em você, doar-se mais a você, saber-se cada dia mais. 33 é só o começo. porque o começo, na verdade, aos 33 a gente sabe: é sempre.