quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

sobre são paulo


quanta ciência você pede, são paulo. tudo em você requer paciência. tudo é pra ontem, tudo é urgência, tudo quer tanto e cada vez mais. os tapetes da suas enormes salas, os asfaltos, abrem caminhos travados que levam ninguém sabe pra onde de verdade. o seu abraço é aberto, mas magro. o limite aqui é o chão. mesmo o mais apaixonado dos seres fuma, um dia que seja, o cigarro da dúvida te olhando da janela. 

ainda percebo suas graças: o que em você é vasto, o que seduz, o que envolve, tudo aquilo que você convida. te aceitamos, cientes. te vivemos, querentes. somos gratos - você é essa cidade grande que faz grande também a gente.

tanto te falta, tanto te sobra. tanto está sempre chegando e partindo. você é essa eterna iminência de caos sobreposta a imensas vontades de cais. você é a mala no corredor da sala que a gente não desfaz por não saber ainda o destino final.

hoje, a cidade para onde todos que tinham sede vinham ameaça justamente secar suas bocas, escurecer seus amanhãs. 

eu te imaginei deserta, na literatura do meu ócio, e isso, mesmo que exagerado, me foi tão estranho... mais duro e frio que todos os seus concretos.

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