quanta ciência você pede, são paulo. tudo em você
requer paciência. tudo é pra ontem, tudo é urgência, tudo quer tanto e cada vez
mais. os tapetes da suas enormes salas, os asfaltos, abrem caminhos travados
que levam ninguém sabe pra onde de verdade. o seu abraço é aberto, mas magro. o
limite aqui é o chão. mesmo o mais apaixonado dos seres fuma, um dia que seja,
o cigarro da dúvida te olhando da janela.
ainda percebo suas graças: o que em você é vasto, o
que seduz, o que envolve, tudo aquilo que você convida. te aceitamos, cientes.
te vivemos, querentes. somos gratos - você é essa cidade grande que faz grande
também a gente.
tanto te falta, tanto te sobra. tanto está sempre
chegando e partindo. você é essa eterna iminência de caos sobreposta a imensas
vontades de cais. você é a mala no corredor da sala que a gente não desfaz por
não saber ainda o destino final.
hoje, a cidade para onde todos que tinham sede vinham
ameaça justamente secar suas bocas, escurecer seus amanhãs.
eu te imaginei deserta, na literatura do meu ócio, e
isso, mesmo que exagerado, me foi tão estranho... mais duro e frio que todos os
seus concretos.
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